COLMÉIA NORDESTINA
Colméia Nordestina |
F.Chagas e Selma Carvalho
- Colméia Racional: Colméia com alças ou gavetas superpostas ou empilhadas, com medidas diversas a fim de comporem ninhos e melgueiras, mais o teto.
- Colméia Nordestina: Caixa comprida de madeira, com uma divisão interna menor destinada às crias, e a maior para os potes.
Ambas as colméias são bem aceitas por todas as abelhas indígenas nordestinas, adaptando-se apenas as suas medidas.
São muito louváveis as tentativas de se criar uma colméia que facilite todas as operações de manejo. Os melhoramentos nas Colméias Racionais são sempre bem vindos: a promessa de colheita do mel mais higiênica, maior produtividade com a reutilização dos potes com conseqüente incentivo aos seus re-enchimentos, e maior facilidade na multiplicação com a utilização do sobre-ninho de colméia forte na formação da nova família.
O exemplo do Reverendo Langstroth, que em 1851 descobriu o significado do “espaço abelha” e inventou uma colméia que revolucionou a apicultura mundial, nos deixa esperançosos de que possa ser inventada a colméia ideal para a meliponicultura.
1. - A Apis mellífera deposita seu alimento sempre acima da cria;
2. - A Apis mellifera reaproveita os seus favos de cria e alimento;
- Os meliponíneos não reaproveitam seus favos de cria. Os potes de alimento esvaziados após a florada são destruídos e o seu cerume depositado nas paredes de outros potes.
3. - A Apis mellifera não reutiliza sua cera na construção de outros favos;
- Os meliponíneos reutilizam totalmente o seu cerume na construção de novos favos e potes.
4. - A Apis mellifera remenda seus favos danificados (na centrifugação, P.ex.);
- Os meliponíneos não “gostam” de remendar seus potes danificados ou deixados vazios: são construtores ou arquitetos por natureza. Reutilizam, para esse fim, todo o cerume fornecido interna ou externamente.
Já em 1948, o Dr. Paulo Nougeira-Neto criava a primeira colméia PNN a qual veio sendo aperfeiçoada pelo autor através dos anos. O último modelo nos foi presenteado após apresentação no Congresso Ibero-Latino-Americano, em Natal-RN, no ano passado (2010).
A colméia PNN ajudou enormemente o desenvolvimento da meliponicultura no Brasil (e no exterior). Achamos que a colméia PNN está para a meliponicultura assim como a langstroth está para a apicultura. O que seria dos meliponicultores surgidos nos últimos 60 anos se não fosse PNN a nos mostrar o caminho!
A Colméia Nordestina, como dissemos nas definições iniciais, era uma caixa comprida de madeira, com uma divisão interna menor destinada às crias e a maior para os potes, e um dreno para o mel na parte de trás.
Mas evoluiu:
- Nos anos 50 (1950) verifiquei que meu pai passou a usar os pregos da tampa a meio caminho, para facilitar a abertura. Depois passou a não usar pregos na tampa, mas duas amarras feitas com arame 18;
- No início dos anos 60, o Monsenhor Huberto Bruening (com quem tive o privilégio de conviver por 10 anos, ele como meu vigário e eu como seminarista da sua paróquia) adotou as dobradiças e as aldravas. Adotou também taliscas na tampa para melhorar o fechamento, e uma segunda tampa em vidro para facilitar a inspeção ou observação. Usou ainda a Colméia Nordestina na posição vertical;
- Já morando em Pernambuco, adaptei uma idéia para proteção contra lagartixa adotando um caneco defendendo a entrada da Colméia Nordestina, melhoria citada e aprovada por Dr. Paulo Nogueira-Neto no seu livro (Pag. 387);
- Com a idéia do Dr. Renato Barbosa (dentista e meliponicultor em Recife) de se usar o sugador odontológico na coleta do mel, abolimos o dreno traseiro, para esse fim, da Colméia Nordestina, e passamos a coletar esse produto com o máximo de higiene;
- Na Colméia Nordestina podemos usar túneis artificiais com até 60cm de comprimento, nas regiões com muitos forídeos.
- Uma pequena modificação que adotei para a Colméia Nordestina foi a entrada lateral possibilitando o seu manejo sem retirá-la do lugar e seu uso tanto em estantes (meliponário) ou em pés (cavaletes) individuais, como nos beirais das cobertas de residências. Atualmente tenho poucas colméias de alças como também não adoto mais Colméias Nordestinas na posição vertical (como fazia há 30 anos) pelo motivo constatado por Dr. Paulo Nogueira-Neto em visita a nossas instalações e citado em seu livro (Pag.141): ao abrir, caíam abelhas novas.
Os nossos cortiços são tidos como retrato do passado, coisa de caboclo, de índio. Para uns o nome Racional não se aplica à nossa colméia.Porque, então, os grandes meliponicultores do nordeste ainda usam a Colméia Nordestina, apesar de conhecerem e já terem experimentado a colméia de alças?
Citemos alguns deles:
- Dr. Renato Barbosa - Recife – PE
- Dr. Tertuliano Aires Neto -Natal – RN
- Cel. Sérgio Guimarães - Natal – RN
- Paulo Menezes - Mossoró- RN
- Kalhil Pereira França - Mossoró – RN
- Afonso Gui - Igarassu – PE
- Leo Pinho - Igarassu – PE
- Alcides Alves dos Santos - Paulista - PE
- Ezequiel Medeiros - Jardim do Seridó – RN
- E outras centenas, da Bahia ao Maranhão.
Não quero fazer proselitismo em favor da Colméia Nordestina. A colméia de alças ou Colméia Racional é uma excelente idéia, a qual, como disse antes, abriu caminho para novos e numerosos meliponicultores que surgiram principalmente nas regiões com menos tradição na criação de abelhas sem ferrão. Conheço regiões no Nordeste em que quase todas as casas de caboclo tem cortiços de abelhas pendurados. O crescimento da meliponicultura nas demais regiões do Brasil deve, sem dúvida, sua parcela importante à criação da Colméia Racional PNN. Quem almeja criar abelhas quer saber primeiro em que, depois como.
Quem adotou a Colméia Racional continue com ela, pois satisfaz plenamente. Não faça como nós que no passado mudamos as abelhas de nossas colméias de alças para as Colméias Nordestinas, somente com a finalidade de facilitar o nosso tipo de manejo. Em Mossoró-RN, temos um marceneiro, o Sr. Miguel das Gaiolas que fabrica, também, excelentes colméias de alças em imburana-de-cambão. Nós temos delas com Jandaíra e com Uruçu, cujo manejo só vem reforçar nossa opção pela Colméia Nordestina.
1. Com o advento das dobradiças e aldavras adotadas pelo Monsenhor Huberto, a Colméia Nordestina nos proporciona maior rapidez na inspeção e na alimentação artificial. Apenas 30 segundos são necessários para as operações de abrir, inspecionar, alimentar, fechar e sinalizar externamente o resultado da inspeção.
2. O uso das dobradiças e aldravas nos permite um fechamento igual ao anterior, proporcionando menos trabalho das abelhas na vedação de brechas e menos trabalho do meliponicultor na limpeza futura da própolis acumulada. Havendo algum deslocamento da própolis, o não fechamento das aldravras nos denuncia. Temos colméias com 30 anos fechamento do mesmo modo sem nunca terem sido despropolizadas.
3. O uso do Sugador Odontológico, adotado pelo Dr. Renato, nos permite colher o mel com higiene e praticidade, sendo o cerume colhido nessa operação devolvido externamente às “arquitetas”. Esse novo manejo na coleta do mel nos permitiu eliminar da Colméia Nordestina o dreno traseiro para “despesca” do mel e a tábua divisória interna.
4. Com o uso do acetato e da vedação na tampa, adotado pelo Sr. Alcides, minorizamos o estresse das abelhas ao se abrir a colméia, com uma menor exposição à temperatura externa, e minimizamos o ataque defensivo contra o meliponicultor e a propolização.
5. Na multiplicação, sabendo que existe sempre um espaço entre os discos (ou espirais) de cria nascente e a cria nova, onde se encontra comumente a rainha, nós retiramos o bloco inteiro de cria nascente (pegado pelas laterais, para não diminuir o espaço-abelha) e o colocamos na caixa-filha. A rainha sempre deverá ficar na caixa-mãe, senão esta provavelmente não sobreviverá! As abelhas novas que se encontram entre os discos e são transladadas para a caixa-filha fazem parte do fechamento do ciclo na nova família.
6. As Colméias Nordestinas podem ser arrumadas tanto em estantes para colônias de abertura frontal como em estantes para as de abertura lateral. Podem ser usadas em pés individuais ou penduradas em alpendres e beirais de casas.
Com relação às medidas da Colméia Nordestina, não existe um padrão. Seu espaço interno deve ser compatível com o tamanho da família que vai se criar nela e com o manejo do meliponicultor. Por exemplo, uma colméia para Uruçu Verdadeira deve ser bem maior que uma para Manduri; quem colhe mel só uma vez no ano deverá usar uma colméia maior do que quem colhe duas vezes. A espessura das paredes dependem da necessidade de maior ou menor proteção do frio ou do calor.
Nós, usamos, particularmente, Colméia Nordestina com as seguintes medidas:
Nós, usamos, particularmente, Colméia Nordestina com as seguintes medidas:
Para Uruçu Verdadeira, Uruçu Amarela, Tiúba, Tubi, Mandaguari, Tubiba e Cupira, colméias medindo internamente 15cm x 15cm x 75cm.
Para a Uruçu Verdadeira o Dr. Tertuliano usa colméia de 20cm x 19cm x 75cm e o Dr. Renato usa 17,5cm x 23cm x 70cm.
Para Jandaíra, Mandaçaia e Uruçu de Chão usamos, particularmente, colméias medindo 15cm x 15cm x 50cm.
Para Jandaíra, Dr. Tertuliano usa 11cm (alt.) x 10cm (larg.) x 75cm (comp.). Dr. Renato usa 15cm (alt.) x 11cm(larg.) x 50cm (comp.). Ezequiel Medeiros usa 10cm (alt.) x 8,5cm (larg.) x 90cm (comp.), com ninho e melgueira separáveis.
Mons. Huberto usava 15cm (alt.) x 15cm (larg.) x 40cm (comp.), (caixas verticais) e 12cm (alt.) x 10cm (larg.) x 80cm (comp.) (usada na horizontal).. Temos uma colméia que pertenceu ao Mons. Huberto que tem escrito, internamente na tampa “Luiz Otávio de Lima fez 30.1.1967 P.HB”. Esta mede 14cm (alt.) x 12cm (larg.) x 75cm (comp.).E seu discípulo Paulo Menezes usa 10cm (alt.) x 07cm(larg.) x 75cm(comp.).
Para Manduri, Jati, Moça Branca e outras famílias menores, usamos colméias medindo 9cm (alt.) x 9cm (larg.) x 50cm (Comp.).
São só exemplos de que a Colméia Nordestina, mesmo com suas variações de medidas, proporciona sucesso aos nossos grandes meliponicultores.Um destaque para as Colméias Nordestinas usadas pelo meliponicultor Cel. Sérgio, de Parnamirim –RN. São obras de arte. Além de famílias fortes as casas são lindas.
O criador Alcides, de Paulista-PE, trocou a madeira pelas placas de fibracimento, com grande sucesso. Não contém amianto. É o retrato da criatividade que alavanca a meliponicultura.
Para concluir: A Colméia Nordestina é simples, como simples são as nossas abelhas sem ferrão, como simples somos nós sertanejos, que com manejo simples não as deixaremos se extinguir.
Excelente artigo! Bem explicativo - gostei mesmo! Outra coisa, considero a caixa ou colmeia nordestina tão racional quanto qualquer outra do sistema vertical. Dia desses fiz umas 6 caixas dessas usando Pinus elliottii, aquele que exala forte cheiro de pinho na madeira...rs! Serviço perdido, porque só depois me dei conta que as abelhas não aceitam, até porque interfere no feromônio! Vocês tem conhecimento de alguém que fez caixas usando esse tipo de madeira e deu certo? Farei novas caixas com madeira apropriada, sem cheiro. Parabéns por excelente publicação!
ResponderExcluirJosé Luiz - de Cuiabá - MT
Olá José Luiz
ExcluirAqui usamos pinus sliot sem problemas, pois aqui ela não exala cheiro. O problema é que se estraga rápido e empena e mofa com facilidade, mas é umas das mais ascessíveis. Aqui muita gente chama o pinus de pinho, na verdade o pinho é outra madeira e exala um cheiro forte e tem uma resina. O pinho do paraná por exemplo se não me falha a memória é a araucária angustifolia.
Aqui a textura do pinus eliot.
http://www.cifap.utad.pt/pinus_elliottii.htm
excelente texto amigo, me esclareceu muitas duvidas. parabéns pelo blog, muito bom e também pelo seu trabalho pelas abelhas sem ferrão. Amigo que borracha é essa que você usa na tampa? E onde encontrar? Meu e-mail joaodedeusferreira2015@gmail.com
ResponderExcluirA caixa nordestina é um marco na história da meliponicultura. São usadas muitas medidas diferentes. Acredito que ela tem que ser aperfeiçoada: 1) a melgueira deve ser destacável para não incomodar a rainha quando for fazer a colheita do mel. Inclusive já vi caixa assim; 2) as medidas de largura e comprimento do ninho devem ser as mesmas, já que o disco é redondo. Assim, não faz sentido fazer uma medida de largura e outra de comprimento (falo da melgueira).
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