Gabriel Garcia Márquez
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. . . Desde os tempos da fundação, José Arcadio Buendía construíra alçapões e gaiolas. Em pouco tempo, encheu de corrupiões, canários, azulões e pintassilgos não só a própria casa, mas todas as da aldeia. O concerto de tantos pássaros diferentes chegou a ser tão aturdidor que Úrsula tapou os ouvidos com cera de abelha para não perder o senso da realidade. Na primeira vez que chegou a tribo de Melquíades, vendendo bolas de vidro para dor de cabeça, todo mundo se surpreendeu por terem podido encontrar aquela aldeia perdida no marasmo do pântano, e os ciganos confessaram que haviam se orientado pelo canto dos pássaros. . . .
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. . . Os forasteiros, evidentemente, pensaram que Remedios, a bela, sucumbira por fim ao seu irrevogável destino de abelha-mestra e que a sua família tentava salvar a honra com a mentira da levitação. . . .
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. . . A princípio, pensou que se tratava de uma debilidade transitória e tomava escondido xarope de tutano e botava mel de abelha nos olhos, mas muito brevemente foi se convencendo de que afundava sem salvação nas trevas, a ponto de nunca ter tido uma noção muito clara da invenção da luz elétrica, porque quando instalaram os primeiros focos só pôde perceber o brilho. . . .
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. . . Na época em que teve a idéia da loteria de adivinhações, Aureliano Segundo acordava com um nó na garganta, como se estivesse reprimindo a vontade de chorar. Petra Cotes interpretou isso como um dos tantos transtornos provocados pela má situação e todas as manhãs, durante mais de um ano, pincelava-lhe o céu da boca com mel de abelha e lhe dava xarope de rábano. . . .
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