Conto extraído da Revista Nós, Época de São João 2002,
Escola Waldorf Rudolf Steiner, SP)
O que quero contar-lhes, aconteceu naquela época em que Jesus andava pela terra silenciosamente e desconhecido ainda. Todos gostavam dele; muitos lhe contavam seus sofrimentos, e suas boas mãos aliviavam as dores. Mas ele ainda não havia ido ao rio Jordão – o Espírito Divino ainda não havia permeado todo o seu ser. O melhor amigo que ele tinha na terra desde a sua infância era João, que também não havia ido ainda ao rio Jordão pregar a vida do Salvador do Mundo e batizar as pessoas que vinham ouvi-lo. Tudo isso não havia acontecido ainda. Jesus caminhava pelo país, trabalhava como carpinteiro e escutava tudo o que os homens lhe contavam, e o que não contavam, ele também sabia, pois sabia olhar dentro dos seus corações. João vivia no deserto e escutava a voz de Deus que lhe dizia o que deveria pregar aos homens. Às vezes deixava sua caverna nas montanhas. Ali havia uma fonte e crescia um pouco de capim, mas na região em volta só havia arbustos espinhudos no sol abrasante. Estes carregavam às vezes algumas frutas que o alimentavam, e as abelhas que viviam na periferia daquele deserto davam-lhe mel. E assim desceu de suas montanhas para visitar os homens como fazia de vez em quando, lá nas ladeias, onde havia pastos para o gado e campos de cereais e morros plantados com videiras.
No seu caminho passou perto das abelhas selvagens e lhes disse: ”queridas abelhas, tantas vezes já me ajudaram; quando eu passar aqui amanhã na minha volta dêem-me um pouco de seu mel. Não tenho mais nada na minha caverna.”
Elas zumbiram em volta dele e ele ouviu sua queixa: “Você está vendo os campos verdes cheios de flores coloridas, das quais tiramos o néctar para preparar o mel? Mas você ouve também como a morte está afiando o alfanje?”
E era verdade, estava anoitecendo e de cada da aldeia ouvia-se o som duro da afiação: téng, téng. João disse às abelhas: “Mas vocês sabem que isso é necessário. Senão não há capim no inverno e as vacas e os bezerros teriam que passar fome”
“e nós”, zumbiram as abelhas, “não achamos mais nada, e o mel preparamos com muitas, muitas flores, precisamos para nossos filhos. Somente um pouquinho daremos contudo a você, quando passar aqui amanhã, porque lhe conhecemos bem e sempre foi muito bom conosco”.
João ficou triste que na Terra sempre é assim, que aquilo que um precisa, tem que tirar do outro. Pois o campo ainda teria florescido por bastante tempo, mas então não haveria capim. E quando chegou à aldeia, todos o cumprimentavam respeitosamente e algo acanhados, pois sabiam que era um homem muito fiel, que vivi no deserto e falava com deus. Mas ele quase não reparava nos cumprimentos, contra o seu costume, e sentou-se cabisbaixo debaixo de uma árvore. Assim também não percebeu que o seu amigo se acercara pelo caminho, parara diante dele e ficara longo tempo contemplando-o. Então ouviu uma voz meiga chamando-o: ”João, porque está tão triste?”
João acordou como de um sonho, levantou-se de um pulo e abraçou Jesus, e quando então seguiram a uma casa onde sabiam que teriam alberguem ele lhe contou tudo o que vivenciara. Durante a sua fala, ouviam de cada que passavam o duro “téng téng téng”, do alfanje sendo afiado com um martelo em cima de um pedaço de ferro. E Jesus pôs a mão no braço do amigo e disse: “Não fique triste, para cada necessidade sempre existe uma ajuda. Espere pelo seu aniversário. Tenho um presente para você e suas amiguinhas... Espere só mais uns dias...
No dia 24 de junho, João olhou à sua volta e descobriu grandes arbustos com folhas em forma de coração e muitos cachos de pequenas flores cheias de mel. E havia no ar um zumbido alegre de milhares de abelhas.
Até hoje a Astrapéia floresce no outono, dando bastante alimento para as abelhas sobreviverem o inverno.
(Conto extraído da Revista Nós, Época de São João 2002, Escola Waldorf Rudolf Steiner, SP)
Fonte na Internet: http://www.festascristas.com.br/sao-joao-batista/sao-joao-batista-historias/621-sao-joao-e-as-abelhas
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