Registramos nesta postagem um fato ilusitado, de grandes significados e por não dizer de emoção.
No dia 06 de maio de 2011, equipe da APIME realizou um resgate de três ninhos (colônias) de abelhas. Uma colônia de abelha africanizada, do gênero Apis e duas outras de abelhas nativas, sendo uma do gênero Melipona, todas localizadas em uma mesma árvore.
Sabemos que no período de chuvas diversas árvores tem seus troncos e galhos caídos ou mesmo há tombamento completo das mesmas.
Isso ocorreu também, esta semana, no pátio do estacionamento do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, DNOCS, localizado na Rua Cônego Barata, 999, no bairro da Tamarineira, Recife - PE, quando uma árvore de Espatódia teve parte do seu fuste (tronco) rompido e caído.
Nesta árvore foi visto um ninho de abelhas Apis, com ferrão, ocupando a cavidade do seu tronco.
Fui avisado por um rapaz, que lava carros, da presença delas naquele local e me perguntou se ali "tinha mel" e se eu poderia tirar as abelhas, na verdade o mel para ele.
Ao vistoriar a árvore, verifiquei que o ninho da Apis estava exposto na extreminade superior da parte do tronco que ficou de pé.
A entrada das abelhas para o interior da colônia se dava em uma pequena abertura em um "nó" localizado na parte mais baixa do tronco.
Observando de perto os restos dos troncos caídos, fui alertado para ter cuidado, pois tinham abelhas entrando em um destes galhos.
Aí, ao observar em outro "nó" de um tronco ao chão, estava a entrada de uma abelha nativa!
A entrada não deixava dúvida, era uma Melipona, uma uruçu!
A alegria já foi grande, mas ainda estava por vir mais uma outra.
Não se tratava da uruçu verdadeira ou seja aquela que tem dispersão natural na zona da mata do litoral nordestino, não era a Melipona scutellaris!
Mas era sim a Melipona subnitida! Isso mesmo, a Uruçu-Mirim ou Jandaíra, espécie encontrada no semi-árido do estado.
Mas era sim a Melipona subnitida! Isso mesmo, a Uruçu-Mirim ou Jandaíra, espécie encontrada no semi-árido do estado.
Surgiu a pergunta? como esta abelha veio parar aqui?
Ainda tinha mais! Ao observar o tronco para ver como seria a retirada do enxame, constatei a existência de mais um ninho, dessa vez de uma abelha "mosquito".
Não tinhamos muito tempo para resgatá-las dali, pois muita chuva incidia na cidade e havia sido acionado o Corpo de Bombeiros para retirar as abelhas italianas.
Então, estivemos ontem, dia 06 de maio de 2011, no local para retirá-las, resgatá-las.
Entramos em ação!
Com a presença dos irmãos meliponicultores Adgerlan, Benoni, Adegerdenes, todos da APIME, iniciamos o trabalho de retirada desses ninhos.
Podamos galhos, estudamos como os ninhos estavam dispostos nos troncos e iniciamos o corte das seções dos troncos.
Tudo isso com a presença do ninho das Apis no mesmo local, por essa razão a necessidade do uso da indumentária apícola.
Depois de muitas podas, escoramentos, cortes e serragem, estavam os troncos seccionados com os seus respectivos ninhos de abelhas nativas.
A segunda etapa foi a "captura" do enxame das abelhas Apis, que exigiu o corte restante do tronco que estava oco e ocupado com os favos. Daí procedeu-se normalmente, com a disposição dos favos nos quadros, localização da abelha rainha e recolhimento das operárias para dentro da colméia.
Os troncos contendo as abelhas nativas foram levadas para o Município de Paulista-PE onde encontra-se o Meliponário dos irmãos meliponicultores, para que depois procedamos a transferência dos mesmos para colméias racionais.
E a pergunta precisava ainda de resposta: Como é que foi aparecer um ninho de abelha de Ururçu-Mirim naquele local dessa região (litoral) quando ela é espécie do semiárido, com ocorrência a partir do Município de Gravatá?
No bairro da Encruzilhada, que fica a aproximadamente 1,5 km do DNOCS, reside o meliponicultor da APIME, o nosso amigo Renato Barbosa, conhecido criador de abelhas nativas, principalmente Uruçu "Verdadeira" e Uruçu "Mirim" ou Jandaíra, o qual sempre teve em seu quintal colônias dessas duas espécies de uruçu.
Uma hipótese é que através de exameação ou enxameações dessas colônias de Renato, tenha havido a nidificação da colônia de Uruçu-Mirim no DNOCS.
Certo mesmo é a comprovação do poder da natureza, representado nesse caso, pelas abelhas nativas, de resistir e reagir para restabelecer o equílibrio da vida.
Esse é um exemplo para todos nós, e a razão desses maravilhosos insetos ter o poder de encantar.
É mais que um exemplo, é um Presente da Vida para ser compartilhado com todos, nesse ano de aniversário da APIME.
Muito bonita a postagem! Essa "aventura" (quase um épico!) dá indícios de quanto forte é a natureza e sua capacidade de renascer. Mostra também que pequenas ações já podem trazer um resultado expressivo: Se vários produtores rurais possuíssem poucas caixas racionais de nativas, certamente haveriam mais ninhos nas matas!
ResponderExcluirSó lembrando que, além do mel, essas abelhas produzem frutos (90% das árvores nos trópicos precisam de um animal para se reproduzir) e tem um papel importantíssimo na natureza.
Amigos,
ResponderExcluirparabéns pelo belo relato e pela ação,pois salvaram essa colônia,que deve ter lutado muito pra se estabilizar nessa árvore...
Abraço.
Paulo Romero.
Meliponário Braz.
João Pessoa,PB.
Meus prezados,
ResponderExcluirQue excelente descoberta, isso deve ser registrado pois são raros os casos de enxameação natural em área urbana.
A Jandaíra é uma das únicas meliponas que tem grande capacidade de enxameação, é muito comum encontrarmos princesas por todos os cantos do meliponário.
Esse registro é digno de ser apresentado em algum congresso de meliponicultura e apicultura.
att,
Kalhil P. França
www.meliponariodosertao.blogspot.com
Mossoró-RN
Alexandre parabéns pelas capturas, fiquei na maior fisura.Talves o Renato tenha um pezinho nessa nativa.
ResponderExcluirAbração amigo.
Belo trabalho de resgate. Ações como essas devem ser multiplicadas. Em Recife impressionantemente ainda há meliponineos nidificando, principalmente mosquitinhos (Plebeia ssp.), Jataí (Tetragonisca angustula), aripuá (Trigona spinipes) e CV (Partamona sp.) Essa abelhas são realmente incríveis. Temos que salvar esses poucos ninhos que nos restam aqui.
ResponderExcluirAirton T. Carvalho
Doutorando e Pesquisador do Plebeia-Ecologia de abelhas e da polinização, UFPE.
Oi pessoal,
ResponderExcluirque belas ações como essa se multipliquem! É uma forma de retribuir a quem faz tanto por nós garantindo a manutenção da vida e de nossas matas através da polinização, como fazem nossas preciosas abelhas indígenas. Parabéns!
Simone Miranda
Caros amigos, com certeza foi uma trabalheira danda... imaginem capiturar 3 colônias na mesma tarde e na chuva?!
ResponderExcluirMas, tudo correu com absoluta tranquilidade e foi muito gratificante participar desse momento histórico em família.
Abraços,
Adgerlan Codácio