Comercialização predatória e ilegal de
enxames de abelhas nativas
em Exposições e Feiras de Animais
precisa ser banida
É notório e facilmente percebido
pelos criadores de abelhas o crescimento do interesse na meliponicultura nestas
duas últimas décadas, seja tanto no campo da criação, como no da pesquisa. Tal
incremento está sendo observado nos Congressos, com simpósios, palestras e publicações
científicas ligadas ao tema, na Academia, com o número de projetos financiados
de pesquisas voltadas para as abelhas nativas e também na dinâmica das redes
sociais, onde meliponicultores se organizam para discussões, troca de
experiências e muitas vezes para comercialização de enxames de abelhas nativas.
Porém, o que poderia aparentemente
ser salutar, a grande procura pela meliponicultura, por outro lado nos
deparamos com uma outra realidade que afronta a legalidade ambiental, a
moralidade e a ética, que é a comercialização ilegal e predatória de enxames de
abelhas nativas.
Poderia relacionar uma série
desses casos, mas vou me ater a apenas
um, registrado no mês de novembro de 2016, na capital do Estado de Pernambuco,
Recife. Foi quando da realização da tradicional 75ª Exposição Nordestina dos Animais e Produtos Derivados, no Parque do Cordeiro. Nessa
Exposição de Animais, o tema apicultura é abordado através de exposição, comercialização
de materiais e equipamentos e também a comercialização de produtos por diversas instituições.
A apicultura é abordada por instituições de ensino, pesquisa, de extensão rural
através de projetos do governo e de comerciantes que vem como representantes de
associações do estado.
Porém, no meio de toda essa
movimentação, surge um personagem, um vilão ambiental. Com cara de um ingênuo
homem humilde do campo, este carrega feixes de colmeias feitas de madeira muito
leve, da palmeira buriti. As colmeias tem dimensões de aproximadamente 10 x 10
x 40 cm, cujas entradas são fechadas com “rolhas” de papel torcido. Esses
feixes de colmeias são carregados debaixo do braço e oferecidas a venda as
pessoas que estão nos espaços onde existem pontos, estandes, que expõe algo
referente a abelhas. O procedimento desse comerciante de abelhas acontece durante
toda o período da exposição. O preocupante com o consentimento, algumas vezes,
de pessoas que sabem do que se trata, ou
seja, de uma ilegalidade, mas que fazem “vista grossa” diante dos fatos.
Esclarecendo que no interior
dessas colmeias de madeira da palmeira buriti apenas existem abelhas campeiras
e geralmente abelhas novas e alguns pedaços de cera de abelha e com um ou dois
potes, a maioria sem discos de crias, ou no máximo, alguns pedaços desses
discos. Nada de um enxame estruturado ou com chance de se estruturar, mas sim
um apanhado de um pouca mais de 20 abelhas campeiras.
Presenciei este inescrupuloso comerciante de abelhas
injetando com uma seringa “garapa” dentro da colmeia, através do orifício da
entrada da colmeias, onde retirava momentaneamente
a rolha de papel e cuja solução era
lançada ao léu dentro da colmeia.
O que de fato acontece é que, por trás de uma
imagem de um homem ingênuo, existe um esquema de venda ilegal e criminosa de
abelhas nativas. Essa prática é rotineira a cada Exposição de Animais e não só
na do Recife, mas em outros lugares, inclusive tem registro desse mesmo fato em
Caruaru – PE.
Com informações que pude obter,
as abelhas são da espécie uruçu amarela, cuja origem, é o Estado do Ceará. São obtidos enxames retirados da vegetação
nativa e os mesmos são esquartejados em pequenos pedaços e as abelhas são distribuídas
em pequenas quantidades nas colmeias.
Certamente não tem discos de cria para que não haja a proliferação de
forídeos.
A orientação dada pelo
comerciante de como lidar com as abelhas é que ao chegar ao local da criação se
retire a rolha de papel, porém não abra a colmeia por uma semana para que elas
se adaptem ao novo local e que dê tudo certo. Ora, uma semana é o tempo para
que o vendedor esteja bem longe quando se vier detectar que se caiu em uma
fraude e que tudo deu errado.
A valor de cada falso enxame é de
R$ 150,00 (cento e cinquenta reais). Ele lá na exposição foi visualizado com aproximadamente
20 dessas falsas colmeias, o que facilmente se conclui a obtenção de três mil
reais em potencial. Mas, fui informado que aquela quantidade é apenas uma parte do
que é trazido, pois outras colmeias ficam em outro lugar.
Avaliando mais detalhamento sobre
esse fato, podemos relacionar que por trás desse ato de um aparente simples e ingênuo
comercio está depositado as seguintes irregularidades e crimes: crime ambiental
por remoção de ninho da animais da natureza pertencente a fauna silvestre,
agravante por ser destruição do ninho de espécie da fauna silvestre; destruição de locais de nidificação quando se
corta os exemplares de árvores; o transporte irregular de fauna silvestre sem autorização
de órgãos ambientais; o transporte de espécies de abelhas de uma região para outras
que não sejam a de dispersão natural da mesma, ou seja, de outros habitats; venda irregular de abelhas nativas; comercialização
de enxames dentro de espaço público governamental sem autorização; e por fim, o estelionato, quando se caracteriza
por induz alguém a uma falsa concepção de algo com o intuito de obter vantagem ilícita
para si ou para outros.
O pior não é tudo o que foi
relatado, como isso por si só não já fosse o pior, mas constatar que esse tipo
de prática tem sido permitida em diversos lugares, por omissão e ou mesmo por promoção, por alguns
que se dizem meliponicutores.
Com esse relato, a APIME vem denunciar
esse tipo de prática ilegal e predatória de comercialização de colmeias de
abelhas nativas e solicitar o empenho dos meliponicultores no combate a esse e a
qualquer tipo de irregularidade ou ato que atente contra as abelhas nativas.
Convidar também os meliponicultores a refletirem e fazerem auto avaliação sobre
suas posturas e práticas, no sentido de estarmos sempre no estado de prontidão
para desenvolvermos a atividade de forma salutar e legal.
A APIME encaminhará à Secretaria
de Agricultura e à Secretaria de Meio
Ambiente e Sustentabilidade do Estado de Pernambuco solicitação para que nas próximas Exposições de Animais hajam
fiscalizações com objetivo de banir esse tipo de prática irregular contra a nossa fauna
silvestre, em particular referente às abelhas nativas.
Recife, 16 de novembro
de 2016
Eu presenciei este homem vendendo e quase comprei. Ele ainda disse que poderia me vender a R$100,00 se eu nao comentasse com um dos proprietários de um estande que estava revendendo a R$150,00 ou era R$200,00!!!!
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