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quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Nota de Alerta


Comercialização predatória e ilegal de enxames de abelhas nativas
em Exposições e Feiras de Animais precisa ser banida

É notório e facilmente percebido pelos criadores de abelhas o crescimento do interesse na meliponicultura nestas duas últimas décadas, seja tanto no campo da criação, como no da pesquisa. Tal incremento está sendo observado nos Congressos, com simpósios, palestras e publicações científicas ligadas ao tema, na Academia, com o número de projetos financiados de pesquisas voltadas para as abelhas nativas e também na dinâmica das redes sociais, onde meliponicultores se organizam para discussões, troca de experiências e muitas vezes para comercialização de enxames de abelhas nativas.

Porém, o que poderia aparentemente ser salutar, a grande procura pela meliponicultura, por outro lado nos deparamos com uma outra realidade que afronta a legalidade ambiental, a moralidade e a ética, que é a comercialização ilegal e predatória de enxames de abelhas nativas.

Poderia relacionar uma série desses casos, mas vou me ater a  apenas um, registrado no mês de novembro de 2016, na capital do Estado de Pernambuco, Recife. Foi quando da realização da tradicional 75ª Exposição Nordestina dos Animais e Produtos Derivados, no Parque do Cordeiro. Nessa Exposição de Animais, o tema apicultura é abordado através de exposição, comercialização de materiais e equipamentos e também a  comercialização de produtos por diversas instituições. A apicultura é abordada por instituições de ensino, pesquisa, de extensão rural através de projetos do governo e de comerciantes que vem como representantes de associações do estado.

Porém, no meio de toda essa movimentação, surge um personagem, um vilão ambiental. Com cara de um ingênuo homem humilde do campo, este carrega feixes de colmeias feitas de madeira muito leve, da palmeira buriti. As colmeias tem dimensões de aproximadamente 10 x 10 x 40 cm, cujas entradas são fechadas com “rolhas” de papel torcido. Esses feixes de colmeias são carregados debaixo do braço e oferecidas a venda as pessoas que estão nos espaços onde existem pontos, estandes, que expõe algo referente a abelhas. O procedimento desse comerciante de abelhas acontece durante toda o período da exposição. O preocupante com o consentimento, algumas vezes, de  pessoas que sabem do que se trata, ou seja, de uma ilegalidade, mas que fazem “vista grossa” diante dos fatos.

Esclarecendo que no interior dessas colmeias de madeira da palmeira buriti apenas existem abelhas campeiras e geralmente abelhas novas e alguns pedaços de cera de abelha e com um ou dois potes, a maioria sem discos de crias, ou no máximo, alguns pedaços desses discos. Nada de um enxame estruturado ou com chance de se estruturar, mas sim um apanhado de um pouca mais de 20 abelhas campeiras.  

Presenciei este  inescrupuloso comerciante de abelhas injetando com uma seringa “garapa” dentro da colmeia, através do orifício da entrada da colmeias, onde  retirava momentaneamente a rolha de papel e  cuja solução era lançada ao léu dentro da colmeia.

 O que de fato acontece é que, por trás de uma imagem de um homem ingênuo, existe um esquema de venda ilegal e criminosa de abelhas nativas. Essa prática é rotineira a cada Exposição de Animais e não só na do Recife, mas em outros lugares, inclusive tem registro desse mesmo fato em Caruaru – PE.

Com informações que pude obter, as abelhas são da espécie uruçu amarela, cuja origem, é o Estado do Ceará.  São obtidos enxames retirados da vegetação nativa e os mesmos são esquartejados em pequenos pedaços e as abelhas são distribuídas em pequenas quantidades nas colmeias.  Certamente não tem discos de cria para que não haja a proliferação de forídeos.

A orientação dada pelo comerciante de como lidar com as abelhas é que ao chegar ao local da criação se retire a rolha de papel, porém não abra a colmeia por uma semana para que elas se adaptem ao novo local e que dê tudo certo. Ora, uma semana é o tempo para que o vendedor esteja bem longe quando se vier detectar que se caiu em uma fraude e que tudo  deu errado.

A valor de cada falso enxame é de R$ 150,00 (cento e cinquenta reais). Ele lá na exposição foi visualizado com aproximadamente 20 dessas falsas colmeias, o que facilmente se conclui a obtenção de três mil reais em potencial. Mas, fui informado  que aquela quantidade é apenas uma parte do que é trazido, pois outras colmeias ficam em outro lugar.

Avaliando mais detalhamento sobre esse fato, podemos relacionar que por trás desse ato de um aparente simples e ingênuo comercio está depositado as seguintes irregularidades e crimes: crime ambiental por remoção de ninho da animais da natureza pertencente a fauna silvestre, agravante por ser destruição do ninho de espécie da fauna silvestre;  destruição de locais de nidificação quando se corta os exemplares de árvores; o  transporte irregular de fauna silvestre sem autorização de órgãos ambientais; o transporte de espécies de abelhas de uma região para outras que não sejam a de dispersão natural da mesma, ou seja, de outros habitats;  venda irregular de abelhas nativas; comercialização de enxames dentro de espaço público governamental  sem autorização; e  por fim, o estelionato, quando se caracteriza por induz alguém a uma falsa concepção de algo com o intuito de obter vantagem ilícita para si ou para outros.

O pior não é tudo o que foi relatado, como isso por si só não já fosse o pior, mas constatar que esse tipo de prática tem sido permitida em diversos lugares, por omissão e ou mesmo por promoção, por alguns que se dizem meliponicutores.

Com esse relato, a APIME vem denunciar esse tipo de prática ilegal e predatória de comercialização de colmeias de abelhas nativas e solicitar o empenho dos meliponicultores no combate a esse e a qualquer tipo de irregularidade ou ato que atente contra as abelhas nativas. Convidar também os meliponicultores a refletirem e fazerem auto avaliação sobre suas posturas e práticas, no sentido de estarmos sempre no estado de prontidão para desenvolvermos a atividade de forma salutar e legal.

A APIME encaminhará à Secretaria de Agricultura  e à Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Estado de Pernambuco solicitação para que  nas próximas Exposições de Animais hajam fiscalizações com objetivo de banir esse tipo de  prática irregular contra a nossa fauna silvestre, em particular referente às abelhas nativas.
Recife, 16 de novembro de 2016

Falsas Colmeias feitas de madeira da palmeira buriti com "rolhas" de folha de papel,
 contendo algumas operárias da uruçu amarela.
Foto obtida na 75ª Exposição Nordestina dos Animais e Produtos Derivados, no Parque do Cordeiro  -
Recife - PE - 2016
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Um comentário:

  1. Eu presenciei este homem vendendo e quase comprei. Ele ainda disse que poderia me vender a R$100,00 se eu nao comentasse com um dos proprietários de um estande que estava revendendo a R$150,00 ou era R$200,00!!!!

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